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sexta-feira, 10 de julho de 2020

O efeito destruidor do partidarismo em nossas igrejas

Daniel Lima
“Quem vota em comunista não é cristão!” “Quem apoia este governo apoia tortura e, portanto, não entendeu o evangelho!” Ambas as frases foram retiradas de postagens de pessoas que se dizem cristãs e, indignadas com posturas por elas consideradas absurdas, saem em defesa de suas ideias. Seria inacreditável – se não fosse tão comum – como cristãos partem para o ataque contra outros cristãos em defesa de posições, partidos e pessoas que não têm o mesmo compromisso de vida com nosso Senhor Jesus Cristo.
Por um lado, posturas assim demonstram onde está a esperança de cada um. Se eu me sinto tão ofendido com a postura do outro a ponto de atacá-lo de forma tão passional, é porque o que tenho de mais precioso foi ameaçado. Será que o que temos de mais precioso é nossa posição política? Será que convicções políticas deveriam tomar precedência à nossa fé? Com isso, sendo brasileiro e passional confesso, não quero dizer que não há razão de indignação, de decepção ou mesmo de ira. Meu questionamento é em que momento minha frustração me autoriza a atacar ou passar julgamento sobre outro?
Quero convidá-los a examinar comigo duas passagens do livro de Paulo aos Filipenses. Em primeiro lugar, importa destacar que a cidade de Filipos era uma colônia de ex-soldados romanos. Os filipenses eram considerados cidadãos romanos por decreto imperial e isentos do pagamento de impostos. O status político era de enorme importância nesta cidade. À medida que uma igreja cristã teve início ali (Atos 16) surgiu uma tensão enorme entre os cidadãos que declaravam que César é Senhor e os cristãos que ousadamente firmavam que Jesus é Senhor. O texto que quero estudar primeiramente é verso 27 do capítulo 1:
27Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica...
No verso 27 Paulo começa usando um termo precioso a qualquer cidadão de Filipos: “exerçam a sua cidadania”. Há um debate entre estudiosos se Paulo se referia à cidadania política ou à cidadania celestial. Ambas interpretações parecem possíveis. Por um lado devo exercer minha cidadania como brasileiro de modo digno do evangelho (o que traz alguns desafios e reflexões); por outro lado devo exercer minha cidadania celestial de modo digno do evangelho (o que destacaria outras implicações). 
De qualquer forma, a aplicação imediata que Paulo destaca é seu desejo de ver estes cristãos “num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica”. Infelizmente, o que temos visto são cristãos lutando entre si por partidos, posições e personagens políticos. Nossa causa é uma só, nossa bandeira é uma só. A única causa pela qual devemos lutar é pela fé evangélica. E, muito embora eu entenda que a fé evangélica traz implicações que afetam a política, estas não são elementos fundamentais da fé evangélica!
Temos de tomar extremo cuidado para não acrescentar qualquer outra condição à fé evangélica. Por mais que eu encontre incoerências entre fé evangélica e o socialismo, no momento que eu digo que quem apoia o socialismo não pode ser cristão, estou acrescentando ao evangelho. Por outro lado, por mais que apoiar a tortura seja uma postura contrária ao cristianismo, no momento que acrescento à fé na vida, morte salvífica e ressurreição de Cristo uma rejeição a posturas totalitárias como condição de salvação, estou acrescentando ao evangelho.
Uma unidade de pensar, de amor, de espírito e de atitude só é possível quando existe humildade, consideração e cuidado mútuo.
Podemos lamentar que cristãos não percebam estas incoerências. Na medida do possível podemos e devemos tentar ajudar estes irmãos a corrigir seus caminhos. Mas todo cuidado deve ser tomado para que neste movimento não lancemos fora a essência do que nos exorta o apóstolo: unidade!
O segundo texto vem logo a seguir, quando Paulo continua no capítulo 2, versos de 1 a 4:
1Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, 2completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. 3Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. 4Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. 
Os cristão de Filipos, e por consequência nós também, foram exortados a demonstrarem sua unidade como testemunho de sua fé em Cristo. Não se trata de uma uniformidade cega, mas da construção de convicções sólidas a partir do senhorio de Cristo. As expressões do verso 2: “mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude” não significam posições impostas por uma liderança, mas conclusões de uma comunidade. O versos 3 e 4 mostram como podemos chegar a uma unidade assim: “... humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”. Uma unidade de pensar, de amor, de espírito e de atitude só é possível quando existe humildade, consideração e cuidado mútuo.
Paulo continua a passagem estabelecendo qual deve ser nosso modelo: o próprio Senhor Jesus! Nos versos 5 a 11 ele passa a descrever qual é a atitude que devemos cultivar. Isso não deveria nos surpreender. O próprio Jesus nos ensina que “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35). Nossa unidade não é apenas um acréscimo interessante, não é apenas para que nosso convívio seja agradável. Jesus expressa que nossa unidade é uma das bases do nosso testemunho diante de um mundo perdido.
Temo que os combates do mundo estão começando a invadir a igreja, enfraquecendo nosso testemunho diante dos incrédulos. Ao invés de um amor que surpreende o mundo, estamos lutando entre nós em disputas que imitam o próprio mundo. Uma vez mais sou levado a lembrar das palavras de Jesus: “Pois eu digo que, se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus” (Mateus 5.20).
Eu oro para que cada um de nós exerça sua cidadania terrena ou celestial de modo digno do evangelho. Que o amor que nos une a partir de Jesus seja nosso vínculo da paz. Que, ao enfrentarmos este mundo iníquo, mantenhamos nosso papel profético, mas sem se deixar aliciar por um ou outro lado de ideologias que, em última análise, representam muito mal o evangelho. Que o mundo se surpreenda com o amor que os seguidores de Jesus manifestam uns pelos outros mesmo quando nossas preferências políticas sejam conflitantes!

Pandemia e Esfriamento Espiritual

Daniel Lima
Hoje estamos completando 110 dias de quarentena em nossa casa. O que começou com algumas adaptações temporárias se tornou o “novo normal”. Saídas reduzidas, aniversários cancelados, reuniões sem o gostoso abraço... De modo especial, fico curioso com os cultos virtuais, reuniões de grupo via telinha, discipulados por aplicativos etc. No entanto, o que realmente importa é como fica nossa caminhada com Deus. De que modo temos vivido e cultivado nossa espiritualidade?
Alguns pastores – de várias denominações – entraram em pânico, como se o culto presencial fosse a essência do que cremos ser a igreja. Parecia que sem culto os crentes iriam se desviar, a igreja iria morrer. No entanto, muitas igrejas mais saudáveis procuraram soluções mais sérias e enraizadas em suas convicções. Compreendendo que somos igreja com ou sem cultos, procuraram maneiras de manter seu povo conectado e de alimentar o rebanho de forma virtual. Algumas igrejas que acompanho de perto começaram a “todo vapor”, fazendo cultos e “lives” diárias. O ritmo era intenso e parecia que um dia fora do ar e a igreja estava perdida. A maioria destas igrejas já encontrou um ritmo mais sustentável, uma dieta de alimentação espiritual que seja sustentável.
Minha pergunta mais profunda é: como ficam os cristãos? Como nós ficamos diante desta situação? Minha comunhão com Deus realmente não depende de cultos ou eventos, ou será que depende? Por um lado, afirmamos uma fé que, como disse Jesus em João 4.23-24, é em espírito e em verdade, não sendo restrita a locais ou edifícios. Por outro, defendemos o que a Palavra nos ensina em Hebreus 10.25:
Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia.
Pessoalmente eu sinto falta do culto público e tenho buscado refletir do que eu sinto falta. Confesso que não é das mensagens, já que continuamos tendo acesso a elas, ainda que virtualmente. Não sinto tanta falta do período do louvor cantado, em parte pois sou beneficiado em ter duas cantoras em casa que me ajudam a louvar por meio da música. Sinto falta de gente, sinto falta de estar com os irmãos. Não que eu fale com todos, mas o fato de estar num evento com o propósito de me aproximar de Deus em comunidade tem um impacto diferente em mim. Em parte, é o fato do estímulo de ver outros buscando a Deus comigo. Por outro, é a alegria de participar de algo maior do que eu mesmo.
As palavras de Paulo em Colossenses 1.28 me vêm à mente:
Nós o proclamamos, advertindo e ensinando a cada um com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.
As três palavras não estão ali por acaso. Paulo afirma que proclamamos Jesus advertindo e ensinando. A palavra “proclamar” é a base do que Paulo se propõe a fazer. “Advertir” e “ensinar” descrevem como isso é feito. Advertir pode ser traduzido por “colocar na mente”, no sentido de apresentar a verdade de forma clara e direta; traz um sentido de confrontação, mas uma confrontação gentil, uma correção branda. A palavra ensinar é bastante direta. Ensino aqui tem o caráter de uma apresentação clara e direta da verdade.
Mas por que precisamos de advertência e ensino? Não bastaria apenas o ensino? Certamente há um sentido para nós nesta advertência... Nosso coração em geral resiste ao ensino. Não buscamos a Deus naturalmente. Nossa inclinação é acharmos autossuficiência. Por isso Deus permite tragédias e dias difíceis. Nestes dias somos levados a buscá-lo, pois não encontramos recursos em nós mesmos.
Eu entendo que este é um dos papéis da comunidade, da igreja. Não é controlar (bem sabemos que não conseguimos controlar...), mas estimular (Hebreus 10.24), encorajar, animar. O fato de estarmos com outros cristãos que buscam a Deus tem um efeito de nos fazer focar nele, de nos fazer buscá-lo com mais intensidade.
O grande perigo da quarentena é que podemos esfriar por falta do estímulo da igreja reunida.
É aí justamente que está um dos maiores perigos desta quarentena. Não é que ficaremos sem alimento espiritual. (A grande maioria das igrejas têm conseguido formas de transmitir a seus membros.) Não é estarmos impedidos de cultuar em nossos salões. (Nosso Deus pode ser cultuado em qualquer lugar.) O grande perigo da quarentena é que podemos esfriar por falta do estímulo da igreja reunida. Por isso Paulo afirma que ele proclama a Cristo tanto falando a verdade como advertindo os irmãos.
Eu quero, em nome de Jesus, e com muito temor e tremor, adverti-lo a que continue buscando a Deus. Não permita que o isolamento, a distância dos irmãos, o faça esfriar em sua busca por Deus. Ore, estude a Palavra, celebre em família (que contexto melhor?). Busque contato mesmo que virtual com irmãos, compartilhe o que tem aprendido, o que Deus tem lhe falado... Não permita que esta circunstância difícil, mas temporária, enfraqueça sua fé!

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