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sábado, 28 de novembro de 2020

 

O poder da pergunta

Daniel Lima

Desde pequeno nos apaixonamos por respostas. Geralmente não buscamos perguntas, mas respostas. Perguntas revelam algo que nos falta, que não sabemos, nossa incompletude, evidenciam nossa necessidade de algo fora de nós mesmos. Mesmo durante aquele delicioso período em que as crianças perguntam incessantemente “por que?”; isso é apenas um exercício de conversação. O que queremos mesmo é a resposta!

É óbvio que nós perguntamos para obter respostas. No entanto, tenho refletido que nossa tendência é correr rápido demais atrás de respostas, mesmo que venham rápido ou sejam genéricas ou simplistas. Respostas assim podem resolver a questão, mas eu temo que não alimentem nosso coração. Pelo contrário, o período de dúvida, de curiosidade, de busca e de inquietação me parece o período em que mais crescemos.

Jesus ensinava por meio de perguntas. Eu imagino que os discípulos ficavam frustrados com respostas que, ao invés de encerrar suas dúvidas, despertavam novas. As respostas de Jesus não solucionavam quando as perguntas (ou a intenção por trás delas) eram imediatistas e utilitárias. Veja por exemplo aquele homem que perguntou a Jesus “Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Marco 10.17). Não podemos julgar seu coração, mas podemos inferir a partir da resposta de Jesus que ele não queria realmente saber o que fazer para herdar a vida eterna. Talvez ele quisesse um reconhecimento de Jesus quanto à sua religiosidade, talvez ele quisesse algo que estava dentro do seu controle e que ele pudesse fazer sem muito sacrifício, talvez ele quisesse apenas confirmar suas opiniões. O fato é que a resposta de Jesus o frustrou e, pelo que podemos ler, ele decidiu não seguir a orientação de Cristo.

Vemos um contraste com o mestre da lei que pergunta a Jesus qual o mandamento mais importante (Marcos 12.28). Este ouve, aceita e concorda com a resposta. Nesta interação pode-se perceber como aquele que perguntou toma a resposta de Jesus e a leva um passo adiante. Nos versos 29-31 lemos o registro da resposta de Jesus citando como mais importante amar a Deus e em seguida destacando que o segundo é amar o próximo. O mestre da lei concorda e, ao final de sua resposta, acrescenta que amar a Deus e o próximo é mais importante que sacrifícios e ofertas. Esta declaração revolucionária e radical para um mestre da lei foi a aplicação da reposta de Jesus. Este homem parece que estava realmente lidando com a questão.

Não crescemos catalogando respostas, crescemos por meio de perguntas. Crescemos ao questionarmos, crescemos ao buscar com sinceridade a verdade.

Percebo em minha própria vida o quão inquieto eu fico quando não encontro respostas para minhas perguntas. Percebo que só ultimamente tenho apreciado o intervalo da dúvida. Lembro-me como houve momentos em que – encontrando uma resposta razoável – eu, tranquilizado, rapidamente abandonava a pergunta e me agarrava à certeza, ainda que fugaz de uma solução. Temo que em alguns casos estas respostas se transformaram em fortalezas em minha alma. Há conforto em respostas. Há segurança em respostas. Ao mesmo tempo, não crescemos catalogando respostas, crescemos por meio de perguntas. Crescemos ao questionarmos, crescemos ao buscar com sinceridade a verdade.

É claro que devemos buscar respostas. Não há crescimento em permanecer permanentemente duvidando e buscando soluções. Aqueles que assim o fazem, em geral, estão mais preocupados em rejeitar as implicações das respostas do que em encontrar verdades. Ao mesmo tempo, tenho sido alertado para não aceitar respostas rápido demais, abandonando assim as perguntas. Para o cristão, a pergunta sincera e humilde levada a Deus é o caminho para uma maior intimidade com ele, para viver uma maior dependência, para permanecer aos pés da cruz.

Vejo esta postura em Davi ao escrever o salmo 139. Após declarar poeticamente a soberania e o maravilhoso conhecimento de Deus, ele conclui escrevendo nos versos 23-24:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende e dirige-me pelo caminho eterno.

Percebo nestes versos que, mesmo conhecendo o Senhor e confiando nele, o salmista encerra seu salmo dizendo a Deus: investiga minha vida e me revela se há algo que não vejo. Apesar de certezas reconfortantes, Davi ainda se perguntava se havia algo mais que Deus podia lhe dizer. Minha oração é que mesmo diante de certezas, nosso coração esteja sempre pronto a aprender mais de Deus, sempre aberto às perguntas que nos levam a conhecê-lo melhor.


 

Como encarar momentos de sofrimento?

Daniel Lima

Como você imagina Jesus em um corpo glorificado? Imagino que, como eu, você imagina um corpo que brilha, roupas brancas e uma aparência sobrenatural; afinal, ele surgia e desaparecia conforme desejava! No entanto, lendo os relatos dos evangelhos, fui surpreendido por um detalhe importante: ele trazia suas cicatrizes. De alguma forma isso me pareceu contraditório. Um corpo glorificado trazendo as marcas de suas tortura e morte?

Refletindo sobre isso, li um texto de Macrina Wiederkehr, onde ela escreve:

Quando Jesus ressuscitou, suas feridas ainda eram visíveis. As cicatrizes podiam ser vistas ali, bem no meio da glória. Se minha vida deve ser moldada à vida de Cristo, por que isso seria diferente em mim?[1]

A realidade é que lidamos muito mal com nossos sofrimentos. Eu por exemplo reconheço que é por meio de períodos de sofrimento que o Espírito produz em mim algumas transformações que eu não sei como seriam possíveis de outra forma. Após um período de dor, de confusão, mesmo de reclamação a Deus, eu chego num novo lugar. Um lugar de entendimento, de quebrantamento, de nova adoração ao meu Senhor. Ainda assim, eu não teria voluntariamente escolhido este período de sofrimento. Mesmo após compreender a transformação que este “deserto” me trouxe, eu ainda o evitaria.

Por isso somos levados ao deserto pelo Espírito (Mateus 4.1). É no deserto que aprendemos a abrir mão de coisas inúteis, de vaidades e de sonhos que, apesar de parecerem tão belos, são na verdade cadeias que nos escravizam. É no deserto que Cristo se torna meu bem maior. Davi expressa isso no Salmo 16.1-2:

Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio. Ao Senhor declaro: “Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti”.

Ao atravessarmos momentos de dor e confusão, momentos em que parece que todo o nosso mundo ruiu, então começamos a vislumbrar algo muito mais belo. Começamos a ver relances do mundo que Deus deseja construir em nossa vida. Assim, as cicatrizes não contrastam com a glória, mas aprofundam a perspectiva dela. São como símbolos que nos lembram de uma época em que éramos escravos e do preço que foi pago para nossa liberdade.

As cicatrizes não contrastam com a glória, mas aprofundam a perspectiva dela. São como símbolos que nos lembram de uma época em que éramos escravos e do preço que foi pago para nossa liberdade.

Paulo expressa esse entendimento em Colossenses 1.24:

Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja.

Ele não era masoquista de se alegrar com sofrimentos. Sua alegria estava no privilégio de participar dos sofrimentos de Cristo em favor de outros. Suas cicatrizes de açoites, de apedrejamentos, de prisões, naufrágios e outros sofrimentos não eram um prazer em si. (Nem tampouco eram motivo de orgulho para mostrar sua resiliência.) Sua alegria estava em participar dos sofrimentos de Cristo em favor da igreja.

Também em Filipenses 3.10-11, após declarar que abriu mão de suas credenciais anteriores, ele volta a expressar o mesmo conceito:

Quero conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Assim, meu irmão, minha irmã, não devemos temer os momentos difíceis, as provações. Eles são oportunidades únicas de crescimento. Sim, serão doloridos e eu não anseio por eles. Ao mesmo tempo, sei que me libertarão do meu velho homem, gerarão a transformação que tanto desejo, vão – enfim – realizar o que Paulo nos exorta em Colossenses 3.5: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês...”. Ao final, quando formos feitos semelhantes a ele (1João 3.2), nossas cicatrizes serão preciosas lembranças da jornada pela qual nos conduziu nosso Senhor.

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