Medo, nosso companheiro indesejado
O medo faz parte da experiência humana. Bebês sentem medo com barulhos altos muito antes de saber qual o perigo por trás do som. A maioria de nós tem medo de alguma coisa. Pode ser de algo sério, como um cão agressivo, alta velocidade ou doenças; pode ser de coisas até engraçadas, como medo do escuro, de altura ou de borboletas. Parece que ser humano é sentir medo. O curioso é que esse medo é tanto uma reação ao perigo real como ao imaginário.
Com uma rápida consulta na internet, lemos a seguinte definição: “Estado emocional provocado pela consciência que se tem diante do perigo; aquilo que provoca essa consciência”.[1] Assim, o medo pode ser fruto da consciência de um perigo (por exemplo, quando você está em um lugar alto do qual pode cair) ou, ao contrário, o medo pode gerar essa consciência quando o perigo inexiste (por exemplo, se houver uma cerca segura neste local alto).
Como cristãos, confundimos medo e temor. Embora possam ser parecidos, são sensações totalmente diferentes. Não somos chamados a ter medo de Deus, mas sim temor (Salmos 111.10; Provérbios 1.7). Moramos como família há anos no Rio Grande do Sul. Um de nossos passeios favoritos é ir até os cânions da região dos Aparados da Serra. Para quem não conhece, são paredões de pedra de até 700 metros de altura. Eu não tenho medo dos paredões, tenho respeito (temor?) pela sua imensidão. No entanto, se eu estiver na beirada e escorregar, terei medo das consequências de cair.
O mesmo ocorre com Deus. Quem conhece a Deus, mesmo que superficialmente, fica impressionado com seu poder e por isso teme. Contudo, quando alguém decide ignorar o Senhor e contrariar seus propósitos, deve, sim, ter medo das consequências. O temor é positivo nesse sentido, mas o medo sempre é algo negativo. Em seu excelente devocional The Blue Book, o autor Jim Branch escreve:
Quanto mais velho eu fico, mais eu me dou conta de que possivelmente o pior inimigo de nossas vidas espirituais (além de Satanás) é o medo. Medo parece estar no centro de tudo que luta contra o meu bem de coração e alma. No centro de meu ativismo está o medo. No centro de minha insegurança, o medo. No centro de minha ansiedade, o medo. No centro de minha competitividade... sim, o medo.[2]
O apóstolo João nos alerta para o fato de que o “perfeito amor expulsa o medo” (1João 4.18). De uma forma mais clara, podemos retomar a narrativa da Queda e veremos a entrada do medo na humanidade. Em Gênesis 3.8-10, lemos:
Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus, que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você?” E ele respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi”
O homem nunca havia sentido medo antes. Algo mudou dentro dele. Larry Crabb define assim a reação humana:
Fiquei com medo... emoção central de Adão; porque estava nu (exposto)... sua motivação central e por isso me escondi... sua estratégia central.[3]
O medo – que hoje é parte da experiência humana – foi inaugurado dessa forma, pois o homem, motivado por sua exposição, resolveu buscar uma solução por conta própria, sem Deus. Creio que o medo é realmente a grande arma de Satanás para impedir nossa aproximação de Deus. Seu argumento ao tentar Eva foi que Deus a estava enganando, de que havia algo melhor. Com medo de que estava perdendo algo, Eva (e Adão) pecaram.
De que modo o medo atrapalha sua vida espiritual? Você tem medo do fracasso (qualquer que seja sua definição de fracasso)? Você tem medo de perder relacionamentos importantes? Você tem medo da rejeição? Ou da dor, da pobreza? Qualquer que seja seu medo, este é um indicativo da estratégia de Satanás para afastá-lo de Deus.
Deixe-me alistar alguns passos ao enfrentar o medo:
Identifique seu medo. O que você mais teme? Identifique e avalie qual a real possibilidade de que isso aconteça. Um medo não definido é gigantesco, e lembre-se: medo gera ainda mais medo. Na minha experiência, eu posso tratar do medo ao identificá-lo; posso avaliá-lo e reconhecê-lo antes que me paralise.
Reconheça que o verdadeiro inimigo é Satanás. Ele é o pai de toda mentira (João 8.44). Na passagem de 2Coríntios 10.3-5, Paulo nos exorta a destruir argumentos (a palavra no original é sofisma, uma mentira bem contada). Quais são as mentiras que você tem deixado que se tornem fortalezas em sua vida? Essas mentiras com certeza estão por trás dos seus medos.
Cultive a verdade de que “o perfeito amor expulsa o medo” (1João 4.18). À medida que conseguimos confiar neste Deus que é todo poderoso e ama perfeitamente, percebemos que estamos seguros, que não há nada a temer.
Minha oração, por você, leitor, e por mim, é que a realidade do amor de Deus e de seu poder afastem de nós esse companheiro indesejado. E que, sendo ousados nas promessas e na segurança de nossa relação com Deus, possamos experimentar um vida muito mais plena.