O PERFIL DO LÍDER - UM SER MORAL, SOCIAL E ÉTICO
O PERFIL DO LÍDER - Um Ser Moral, Social e Ético
1. O Líder como um ser moral
Deus criou o homem à
sua imagem e semelhança (Gn 1.26-27; Ef 4.24). Como bem afirmou Hodge (2001, p.
555), conforme os teólogos reformados e a maioria dos teólogos de outras
divisões da Igreja, a semelhança do homem com Deus incluía, dentre outros
pontos, sua natureza intelectual e moral.
Como ser moral entende-se que o homem é dotado de uma
natureza com poderes que capacita a agir de maneira certa ou errada. Esses poderes são o intelecto ou razão, o
sentimento e a vontade. Em conexão com estas faculdades humanas está a
atividade da consciência, que envolve todos os poderes, e sem a qual não pode
haver nenhuma ação moral (STRONG, 2003, p. 64-65; THIESSEN, 1988, p. 158).
Estes poderes ou faculdades humanas atuam da seguinte forma:
- O intelecto ou razão habilita o homem para discernir,
avaliar entre o certo e o errado;
- A sensibilidade ou sentimento o inclina, o move para o
certo ou o errado;
- A vontade livre concretiza, faz.
Um claro exemplo da
atividade destas faculdades humanas operando, conforme Leite Filho (1997, p.
62) pode ser vista no filho pródigo (Lc 15.11-32):
- A consciência o acusou (v. 17a);
- O intelecto o fez refletir (v. 17b);
- O sentimento o inclinou (v. 18, 19);
- A vontade o fez agir (v. 20);
Vale lembrar, que em
razão de sua falibilidade, a consciência humana não é o árbitro final do
julgamento de suas ações. O que é direito, o que é justo, em última instância,
é determinado pelo caráter de Deus, manifesto em sua Palavra.
O homem, criado a
imagem e semelhança de Deus, é um agente racional, moral e, portanto, também um
agente livre e responsável pelos seus atos.
Como um ser livre e responsável por seus próprios atos, o
líder deve assumir responsabilidades e ser responsabilizado. Observemos alguns
casos bíblicos:
a) Líderes bíblicos responsabilizados por seus erros
- Adão (Gn 3.17-19)
- Mirian (Nm 12.1-15)
- Corá, Datã e Abirão (Nm 16.1-35)
- Moisés (Dt 32.48-52)
- Sansão (Jz 16.19-20)
b) Líderes bíblicos que assumiram as responsabilidades por
seus erros
- Arão (Nm 12.11)
- Saul (1 Sm 15.22-31)
- Davi (2 Sm 12.1-15)
Aprendemos com os exemplos acima, que os erros de um líder
são tratados e punidos das mais diversas maneiras, devido às complexidades e
peculiaridades das pessoas e circunstâncias envolvidas. Extraímos várias lições
dos episódios aqui descritos:
- O erro consciente e intencional é passivo de punição.
- Deus, como ser moral perfeito, através de sua direção ou
intervenção sobrenatural ou de processo naturais, decorrentes da quebra de
princípios e leis naturais (Gl 6.7), nunca nos deixa impunes.
- A disciplina divina está fundamentada em seu amor (Hb
12.6-13).
- A graça e a misericórdia divina podem outorgar ao líder, imperfeito
e falível que é, uma nova(s) oportunidade(s).
- Os vitimados pelos erros devem sempre ser tratados com um
sentimento e desejo de restauração, sem, contudo, relativizarmos a palavra de
Deus, buscando “jeitinhos” que só trarão mais problemas ou a perda da
credibilidade dos envolvidos no episódio e nas decisões.
A autoridade moral de um líder não se fundamenta em sua
credencial de obreiro, em seu cargo ou função. Fundamenta-se em sua integridade
moral (santidade, retidão/justiça, bondade e verdade).
2. O Líder como um ser social
“Disse mais o Senhor: Não é bom que o homem esteja só;” (Gn
2.18)
O homem é um ser social. A necessidade de “estar com” é
inerente ao ser humano. O próprio Deus deixa isto explícito.
O Senhor dotou o homem da capacidade de viver em sociedade.
A socialização acontece na medida em que o indivíduo participa ativamente da
vida em sociedade, aprende suas normas, valores, hábitos e costumes.
O líder cristão necessita de viver ativamente, solidamente e
exemplarmente sua vida social, em seus vários níveis ou contatos sociais
(primários e secundários).
- A vida social ativa do líder cristão. Implica em que o
mesmo deve assumir o seu papel (responsabilidade) de ator e sujeito histórico,
de agente transformador da realidade, da busca de uma sociedade mais justa,
através de ações concretas que beneficiem os seus familiares (Mt 15.1-9; 1 Tm
5.8), os da família da fé (At 4.32-35; 6.1; 11.27-30; Rm 15.25-27; 1 Co 16.1-4;
Gl 6.9-10) e de maneira geral, o seu próximo (Lc 10.25-37; Jo 6.1-13). O líder
cristão não deve ser um sujeito alienado das principais questões de sua época
(econômica, política, religiosa, ambiental, educacional, saúde, legal etc.);
- A vida social sólida do líder cristão. A sociedade
contemporânea é caracterizada por aquilo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman
definiu como “modernidade líquida”, caracterizada pela fragilidade dos laços
humanos, da virtualidade das amizades e da brevidade dos relacionamentos,
afetando desta maneira a qualidade e solidez de nossas relações sociais. Os
relacionamentos tornam-se descartáveis, coisificados, desumanizados. É a
sociedade do homem sem vínculos familiares, sem vínculos de amizade, sem
vínculos com igrejas, sem vínculos com ministérios, sem vínculos com convenções
etc. O líder cristão, na condição de sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16),
não conformado ao sistema (Rm 12.2), é promotor da solidez, da perpetuidade e
da qualidade dos seus relacionamentos com os de fora (1 Co 5.9-10, com os de
dentro (1 Ts 4.9-12; 1 Tm 5.1-3; 1 Jo 4.20-21), com a sua família (1 Co
7.10-13, 32-34; Ef 5.22, 25; 6.1-4). O líder cristão é um cultivador de
amizades sinceras. Como bem escreveu Swindoll (1998, p. 291) “...penso em meus
amigos como grandes árvores frondosas, que estendem seus ramos sobre mim, oferecendo
sombra, cuja presença é uma proteção contra as rajadas do vento de inverno e da
solidão. Uma grande árvore protetora; isso é um amigo.”;
- A vida social exemplar do líder cristão. O líder deve conduzir-se em sua vida social
(pública e familiar) exemplarmente. Nas qualificações para a separação,
apresentação e consagração de obreiros, prescritas em 1 Timóteo 3.1-7 (NTLH),
lemos que o líder deve, em termos de vida social, ser um homem que ninguém
possa culpar de nada, ter somente uma esposa, ser moderado, prudente, simples,
hospedeiro, não chegado ao vinho nem briguento, pacífico e calmo, não deve amar
o dinheiro, ser um bom chefe de sua própria família, ser um bom educador dos
filhos, ser respeitado pelos de fora da igreja, para que não fique desmoralizado e não caia na
armadilha do diabo;
A alienação e falta
de responsabilidade social de um obreiro, produzirá uma mensagem evangelística
ou doutrinária desacreditada, descontextualizada e irrelevante, resultado de
uma fé morta (Tg 2.14-26), de um ministério com muito discurso e pouca (ou
nenhuma) ação.
3. O Líder como um ser ético
Comecemos observando alguns conceitos de “ética”.
Ética, do grego etiké é o estudo por parte da filosofia e da
teologia, que busca identificar o certo e o errado. A ética busca oferecer
discernimento, princípios ou mesmo um sistema de orientação na busca pela boa
vida ou pela forma correta de agir nas situações gerais e específicas. De modo
geral, os sistemas éticos são deontológicos (guia o comportamento identificando
ou descobrindo o que intrinsecamente é certo ou errado) ou teleológicos (buscam
guiar o comportamento entendendo os resultados ou os efeitos causados).
Ética cristã é o conjunto de princípios baseados nas
Sagradas Escrituras, principalmente nos ensinos de Cristo e de seus apóstolos,
cujo objetivo é orientar a conduta do cristão em seus relacionamentos com Deus,
com o próximo, consigo mesmo e com a natureza.
Ética ministerial é o conjunto de princípios baseados na
Bíblia Sagrada, de forma mais específica nos ensinos de Cristo e nas epístolas
pastorais, que fundamentam e orientam a conduta do obreiro nas seguintes áreas:
a) Sua vida particular (1 Tm 4.16)
- Espiritual. Devoção, consagração, comunhão, sinceridade;
- Pessoal. O cuidado com a saúde física (exercício,
descanso, alimentação), emocional (estresse, ansiedade, fadiga, angústia, medo,
depressão) e mental (estudos, leitura);
- Familiar. O cuidado com o lar, a esposa e os filhos
(comunicação, participação e atenção);
b) Sua vida em sociedade (Rm 13.1-7; 1 Co 10.31-33; 1 Tm
3.7)
- Em relação aos não crentes;
- Em relação às autoridades constituídas;
c) Sua vida congregacional (1 Tm 4.12)
- Com os irmãos em geral (crianças, adolescentes, jovens,
adultos e anciãos);
- Com o sexo oposto;
- Com os seus companheiros de ministério;
- Com o seu líder;
- Com os seus liderados;
- Nas visitas pastorais;
- No gabinete pastoral;
- No púlpito;
- Na pregação;
- No ensino;
- Na administração;
Como ser moral,
social e ético, o líder cristão nos tempos pós-modernos, precisa continuar
primando e observando os princípios norteadores da palavra de Deus, não se
rendendo às ditaduras relativistas, filosóficas, antinomistas, ideológicas e
culturais de nossa época.