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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O PERFIL DO LÍDER - UM SER MORAL, SOCIAL E ÉTICO




O PERFIL DO LÍDER - Um Ser Moral, Social e Ético


1. O Líder como um ser moral
 Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gn 1.26-27; Ef 4.24). Como bem afirmou Hodge (2001, p. 555), conforme os teólogos reformados e a maioria dos teólogos de outras divisões da Igreja, a semelhança do homem com Deus incluía, dentre outros pontos, sua natureza intelectual e moral.
Como ser moral entende-se que o homem é dotado de uma natureza com poderes que capacita a agir de maneira certa ou errada.  Esses poderes são o intelecto ou razão, o sentimento e a vontade. Em conexão com estas faculdades humanas está a atividade da consciência, que envolve todos os poderes, e sem a qual não pode haver nenhuma ação moral (STRONG, 2003, p. 64-65; THIESSEN, 1988, p. 158). Estes poderes ou faculdades humanas atuam da seguinte forma:
- O intelecto ou razão habilita o homem para discernir, avaliar entre o certo e o errado;
- A sensibilidade ou sentimento o inclina, o move para o certo ou o errado;
- A vontade livre concretiza, faz.
 Um claro exemplo da atividade destas faculdades humanas operando, conforme Leite Filho (1997, p. 62) pode ser vista no filho pródigo (Lc 15.11-32):
- A consciência o acusou (v. 17a);
- O intelecto o fez refletir (v. 17b);
- O sentimento o inclinou (v. 18, 19);
- A vontade o fez agir (v. 20);
 Vale lembrar, que em razão de sua falibilidade, a consciência humana não é o árbitro final do julgamento de suas ações. O que é direito, o que é justo, em última instância, é determinado pelo caráter de Deus, manifesto em sua Palavra.
 O homem, criado a imagem e semelhança de Deus, é um agente racional, moral e, portanto, também um agente livre e responsável pelos seus atos.
Como um ser livre e responsável por seus próprios atos, o líder deve assumir responsabilidades e ser responsabilizado. Observemos alguns casos bíblicos:
a) Líderes bíblicos responsabilizados por seus erros
- Adão (Gn 3.17-19)
- Mirian (Nm 12.1-15)
- Corá, Datã e Abirão (Nm 16.1-35)
- Moisés (Dt 32.48-52)
- Sansão (Jz 16.19-20)
b) Líderes bíblicos que assumiram as responsabilidades por seus erros
- Arão (Nm 12.11)
- Saul (1 Sm 15.22-31)
- Davi (2 Sm 12.1-15)
Aprendemos com os exemplos acima, que os erros de um líder são tratados e punidos das mais diversas maneiras, devido às complexidades e peculiaridades das pessoas e circunstâncias envolvidas. Extraímos várias lições dos episódios aqui descritos:
- O erro consciente e intencional é passivo de punição.
- Deus, como ser moral perfeito, através de sua direção ou intervenção sobrenatural ou de processo naturais, decorrentes da quebra de princípios e leis naturais (Gl 6.7), nunca nos deixa impunes.
- A disciplina divina está fundamentada em seu amor (Hb 12.6-13).
- A graça e a misericórdia divina podem outorgar ao líder, imperfeito e falível que é, uma nova(s) oportunidade(s).
- Os vitimados pelos erros devem sempre ser tratados com um sentimento e desejo de restauração, sem, contudo, relativizarmos a palavra de Deus, buscando “jeitinhos” que só trarão mais problemas ou a perda da credibilidade dos envolvidos no episódio e nas decisões.
A autoridade moral de um líder não se fundamenta em sua credencial de obreiro, em seu cargo ou função. Fundamenta-se em sua integridade moral (santidade, retidão/justiça, bondade e verdade).
2. O Líder como um ser social
“Disse mais o Senhor: Não é bom que o homem esteja só;” (Gn 2.18)
O homem é um ser social. A necessidade de “estar com” é inerente ao ser humano. O próprio Deus deixa isto explícito.
O Senhor dotou o homem da capacidade de viver em sociedade. A socialização acontece na medida em que o indivíduo participa ativamente da vida em sociedade, aprende suas normas, valores, hábitos e costumes.
O líder cristão necessita de viver ativamente, solidamente e exemplarmente sua vida social, em seus vários níveis ou contatos sociais (primários e secundários).
- A vida social ativa do líder cristão. Implica em que o mesmo deve assumir o seu papel (responsabilidade) de ator e sujeito histórico, de agente transformador da realidade, da busca de uma sociedade mais justa, através de ações concretas que beneficiem os seus familiares (Mt 15.1-9; 1 Tm 5.8), os da família da fé (At 4.32-35; 6.1; 11.27-30; Rm 15.25-27; 1 Co 16.1-4; Gl 6.9-10) e de maneira geral, o seu próximo (Lc 10.25-37; Jo 6.1-13). O líder cristão não deve ser um sujeito alienado das principais questões de sua época (econômica, política, religiosa, ambiental, educacional, saúde, legal etc.);
- A vida social sólida do líder cristão. A sociedade contemporânea é caracterizada por aquilo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman definiu como “modernidade líquida”, caracterizada pela fragilidade dos laços humanos, da virtualidade das amizades e da brevidade dos relacionamentos, afetando desta maneira a qualidade e solidez de nossas relações sociais. Os relacionamentos tornam-se descartáveis, coisificados, desumanizados. É a sociedade do homem sem vínculos familiares, sem vínculos de amizade, sem vínculos com igrejas, sem vínculos com ministérios, sem vínculos com convenções etc. O líder cristão, na condição de sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16), não conformado ao sistema (Rm 12.2), é promotor da solidez, da perpetuidade e da qualidade dos seus relacionamentos com os de fora (1 Co 5.9-10, com os de dentro (1 Ts 4.9-12; 1 Tm 5.1-3; 1 Jo 4.20-21), com a sua família (1 Co 7.10-13, 32-34; Ef 5.22, 25; 6.1-4). O líder cristão é um cultivador de amizades sinceras. Como bem escreveu Swindoll (1998, p. 291) “...penso em meus amigos como grandes árvores frondosas, que estendem seus ramos sobre mim, oferecendo sombra, cuja presença é uma proteção contra as rajadas do vento de inverno e da solidão. Uma grande árvore protetora; isso é um amigo.”;
- A vida social exemplar do líder cristão.  O líder deve conduzir-se em sua vida social (pública e familiar) exemplarmente. Nas qualificações para a separação, apresentação e consagração de obreiros, prescritas em 1 Timóteo 3.1-7 (NTLH), lemos que o líder deve, em termos de vida social, ser um homem que ninguém possa culpar de nada, ter somente uma esposa, ser moderado, prudente, simples, hospedeiro, não chegado ao vinho nem briguento, pacífico e calmo, não deve amar o dinheiro, ser um bom chefe de sua própria família, ser um bom educador dos filhos, ser respeitado pelos de fora da igreja, para que  não fique desmoralizado e não caia na armadilha do diabo;
 A alienação e falta de responsabilidade social de um obreiro, produzirá uma mensagem evangelística ou doutrinária desacreditada, descontextualizada e irrelevante, resultado de uma fé morta (Tg 2.14-26), de um ministério com muito discurso e pouca (ou nenhuma) ação.
3. O Líder como um ser ético
Comecemos observando alguns conceitos de “ética”.
Ética, do grego etiké é o estudo por parte da filosofia e da teologia, que busca identificar o certo e o errado. A ética busca oferecer discernimento, princípios ou mesmo um sistema de orientação na busca pela boa vida ou pela forma correta de agir nas situações gerais e específicas. De modo geral, os sistemas éticos são deontológicos (guia o comportamento identificando ou descobrindo o que intrinsecamente é certo ou errado) ou teleológicos (buscam guiar o comportamento entendendo os resultados ou os efeitos causados).
Ética cristã é o conjunto de princípios baseados nas Sagradas Escrituras, principalmente nos ensinos de Cristo e de seus apóstolos, cujo objetivo é orientar a conduta do cristão em seus relacionamentos com Deus, com o próximo, consigo mesmo e com a natureza.
Ética ministerial é o conjunto de princípios baseados na Bíblia Sagrada, de forma mais específica nos ensinos de Cristo e nas epístolas pastorais, que fundamentam e orientam a conduta do obreiro nas seguintes áreas:
a) Sua vida particular (1 Tm 4.16)
- Espiritual. Devoção, consagração, comunhão, sinceridade;
- Pessoal. O cuidado com a saúde física (exercício, descanso, alimentação), emocional (estresse, ansiedade, fadiga, angústia, medo, depressão) e mental (estudos, leitura);
- Familiar. O cuidado com o lar, a esposa e os filhos (comunicação, participação e atenção);
b) Sua vida em sociedade (Rm 13.1-7; 1 Co 10.31-33; 1 Tm 3.7)
- Em relação aos não crentes;
- Em relação às autoridades constituídas;
c) Sua vida congregacional (1 Tm 4.12)
- Com os irmãos em geral (crianças, adolescentes, jovens, adultos e anciãos);
- Com o sexo oposto;
- Com os seus companheiros de ministério;
- Com o seu líder;
- Com os seus liderados;
- Nas visitas pastorais;
- No gabinete pastoral;
- No púlpito;
- Na pregação;
- No ensino;
- Na administração;

 Como ser moral, social e ético, o líder cristão nos tempos pós-modernos, precisa continuar primando e observando os princípios norteadores da palavra de Deus, não se rendendo às ditaduras relativistas, filosóficas, antinomistas, ideológicas e culturais de nossa época.

A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA: A MULHER ADÚLTERA

 I
Conforme o texto de Jo 8.1-11, Jesus ensinava o povo quando alguns escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério. Não temos informações acerca do homem que com ela adulterava, nem a razão de não ter sido trazido também.

É possível imaginar a hostilidade com que a mulher foi tratada, a vergonha pública a que foi submetida. Havia por parte dos escribas e fariseus um suposto desejo de justiça em relação ao fato, visto que na verdade o interesse maior era ter do que acusar Jesus (v. 6).

"Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?", foi a pergunta dos escribas e fariseus. A lei determinava a pena de morte para este delito (Lv 20.10; Dt 22.22-24). Silenciosamente Jesus se inclina e passa a escrever na terra com o dedo. Os acusadores insistem na pergunta, pelo que Jesus se levanta e diz: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra" (v. 7). Ele volta silenciosamente a inclinar-se e a escrever no chão.

Enquanto Jesus escreve na terra, suas palavras escrevem e marcam a consciência dos escribas e fariseus, e um após outro, a começar pelos mais velhos até os últimos, se retiram.

É neste exato momento, ao ficar só com a mulher, que a graça (favor imerecido) será percebida claramente na fala e nos atos de Jesus.

A GRAÇA DIALOGA

Apenas pela graça, visto que o pecado separou o homem de Deus, é que torna-se possível o diálogo de Deus com o homem. Assim como em tantos outros eventos, a começar pelo Éden, aqui, mais uma vez, o Senhor toma a graciosa iniciativa de conversar com o ser humano, sendo Ele quem é, e nos quem somos: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém Senhor!" (v. 10, 11a)

A GRAÇA ABSOLVE

Pela lei a mulher era culpada. O rei Davi vivenciou uma situação parecida, e mesmo sendo culpado foi objeto da graça de Deus (2 Sm 12.1-15). Jesus, Deus encarnado, lhe diz: "Nem eu tampouco te condeno" (v. 11b). O libelo acusatório é graciosamente contestado e suplantado pelo argumento e tese da graça. "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós" (Rm 8.33-34).

A GRAÇA LIBERTA

A graça liberta das prisões do pecado e da culpa. A ordem é clara: "vai"(v. 11c). Sem discursos, sem rodeios, sem ameaças. A libertação provinda da graça é objetiva, plena e verdadeira: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (Jo 8.36).

A GRAÇA RESPONSABILIZA

Não estamos tratando aqui de relativização moral ou de antinomismo (aversão às leis). Estamos tratando sobre a graça que busca na essência e no espírito da lei o seu real significado e propósito. A graça de Deus outorga perdão, mas é acompanhada de um convite à responsabilidade: "não peques mais" (v. 11d). A superabundância da graça (Rm 5.20) não nos dá o direito de abusar ou de banalizá-la: "Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?" (Rm 6.1-2)


A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (Tito 2.11). Se aproprie dela em nome de Jesus!

Postagem

  Biografia: Bernhard Johnson Bernhard Johnson nasceu em Alameda, Califórnia - EUA, em 20 de junho de 1931. Iniciou seu profícuo ministério,...