Como reagir a mudanças?
Nunca velejei, mas sempre fiquei encantado com o modo como um velejador consegue trabalhar com o vento e se dirigir ao seu destino mesmo que o vento não seja favorável. Entre as poucas certezas que podemos ter em nossas vidas, uma delas é que vamos enfrentar mudanças. E essas mudanças serão surpreendentes, tirarão nosso fôlego e abalarão nossas certezas e planos. Este último ano foi palco de muitas mudanças. E isso não é fruto só da pandemia! Valores, ideias, certezas “inabaláveis” estão sendo questionadas constantemente. Algumas mudanças são perversas e demonstram como o coração do homem está longe de Deus, mas outras são resultado de estudo, descobertas e daquilo que chamamos “graça comum”.
A pandemia, como toda catástrofe, acelerou algumas mudanças que já se apresentavam no horizonte. Por exemplo o “home office”, ou trabalhar em casa. Conheço muita gente que neste último ano se adaptou para conduzir seu trabalho de casa e hoje descobriu que este pode ser tão bem conduzido, às vezes até melhor, a partir de sua própria casa. Muitas escolas tiveram que alterar rapidamente para uma educação à distância e têm obtido resultados excelentes, muito embora muito ainda precise ser feito.
Muito do que estávamos acostumados como igrejas evangélicas teve de ser adaptado durante a pandemia. Encontros e eventos tiveram de ser transformados em atividades online. Igrejas que não puderam fazer a transição ficaram esvaziadas. Não poucos líderes estão ainda hoje sem saber como retomar seus ministérios. Há aqueles que fecham os olhos e continuam exatamente da mesma maneira, crendo que se Deus abençoou um método antes, ele certamente abençoará de novo – o que chamam de fidelidade. Outros adotam novas posturas, tentam aproveitar novidades e modismos. Por fim há aqueles que percebem as mudanças, querem aprender com estas, embora ainda valorizem métodos antigos. Estes entendem que fidelidade, muito acima de ater-se a uma forma, é descobrir como continuar o ministério preservando o que é inegociável.
Fidelidade diante de mudanças é mudar o que precisa ser mudado para preservar o que não pode ser mudado.
Quando mudanças tão abrangentes ocorrem, todos voltamos à estaca zero, ou seja, aquilo que nos levou ao resultado desejado ontem não garante o fruto de amanhã. Os exemplos bíblicos de pessoas tementes a Deus que foram lançados em situações de mudança são inúmeros: Adão e Eva tiveram de se adaptar a um mundo hostil. José teve de aprender os costumes egípcios. Davi teve de se tornar um líder de homens e eventualmente de uma nação. Ester teve de aprender a viver como rainha. Neemias teve de se tornar o reconstrutor de uma cidade arrasada. No Novo Testamento, homens como Pedro, Zaqueu, Cornélio e João tiveram de abandonar não só seus estilos de vida, mas grande parte do que acreditavam.
Diante de mudanças, é natural ficarmos confusos e, de alguma forma, nos agarrarmos ao passado. Fidelidade diante de mudanças é mudar o que precisa ser mudado para preservar o que não pode ser mudado. Talvez o personagem que mais nos deixou suas reações diante de mudanças foi Paulo. Em Filipenses 3 ele escreve sobre como todo seu passado e seus distintivos de glória se tornaram inúteis. Lemos no verso 7: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda, por causa de Cristo”. O que era lucro, o que lhe dava significado e valor, agora era inútil. Mais adiante, lemos nos versos 13-14:
Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.
Gostaria de compartilhar algumas observações sobre como reagir a mudanças, seja em nosso trabalho, em casa, na igreja ou mesmo na minha caminhada com o Senhor:
1. Identifique a essência. Paulo afirma que prosseguia para o alvo. Qual é o alvo? O que realmente importa? O que é mais importante em seu relacionamento com alguém: manter tradições ou viver em comunhão? Em nossos ministério, o que realmente buscamos: manter programas vivos ou alcançar pessoas para Jesus? Não podemos abrir mão da essência em tempo de mudança, já a forma pode (e talvez deva) ser adaptada ou reinventada.
2. Esqueça o que ficou para trás. Somos criaturas de costumes, nossa tendência é nos apaixonarmos por hábitos. Certamente não foi algo fácil para Paulo dizer que deixou para trás toda sua tradição como fariseu. Para seguirmos a Deus, com frequência, precisamos abandonar formas que nos eram muito queridas e confortáveis.
3. Descubra como continuar avançando. Não é possível manter a essência sem uma forma. Se a antiga maneira de fazer não serve mais, precisamos descobrir de que maneira podemos preservar o que é realmente importante. Se uma forma de manter comunhão com irmãos em Cristo não funciona mais, precisamos descobrir como manter comunhão de outra forma.
4. Cultive sua dependência daquele que não nos abandona. Em vários de seus escritos Paulo deixa claro que seus esforços não se baseiam em suas próprias capacidades. Sua confiança estava naquele que podia cuidar dele e capacitá-lo para enfrentar com vitória todas as situações em que Deus o colocasse. Lemos em Colossenses 1.29: “Para isso eu me esforço, lutando conforme a sua força, que atua poderosamente em mim”.
Minha oração por você e por mim, nestes tempos de mudança, tanto externa como interna, é que nossos corações continuem a olhar para Jesus, o autor e consumador de nossa fé, e que possamos reagir a mudanças com leveza, sem apegos desnecessários, mas igualmente sem abrir mão daquilo que é essência: “‘Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento’ e ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Lucas 10.27).
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